A partir da próxima segunda-feira (23), farmácias de todo o país serão obrigadas a reter a segunda via da receita médica na venda de medicamentos análogos ao GLP-1, como Ozempic, Wegovy, Mounjaro, Saxenda e outros utilizados no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
A determinação é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Instrução Normativa nº 360, publicada em abril. A norma altera a RDC nº 471/2021 e inclui oficialmente os análogos do GLP-1 na lista de medicamentos sujeitos a controle especial, ao lado de substâncias como antibióticos.
A medida tem como objetivo conter o uso indiscriminado desses medicamentos, promover maior segurança aos pacientes e contribuir para o equilíbrio no abastecimento das farmácias. Originalmente indicados para tratamento de condições específicas, esses fármacos vêm sendo amplamente usados com foco em emagrecimento, muitas vezes sem prescrição ou acompanhamento médico.
“A retenção da receita é uma medida essencial para assegurar o uso racional e adequado desses medicamentos”, destaca Lenyta Gomes, farmacêutica da plataforma de saúde Voy. “Apesar de eficazes, os análogos do GLP-1 exigem acompanhamento profissional e um plano terapêutico multidisciplinar.”
Segundo dados da plataforma IQVIA, o Brasil já vendeu mais de 3 milhões de unidades de Ozempic apenas em 2024. A demanda por medicamentos como Ozempic, Saxenda, Victoza, Xultophy e Rybelsus cresceu 663% em seis anos, movimentando mais de R$ 4 bilhões somente neste ano.
O aumento no consumo também acende um alerta para os riscos. Dados do sistema VigiMed, da própria Anvisa, mostram que entre 2012 e setembro de 2024 foram registradas 1.165 notificações de eventos adversos relacionados a substâncias como liraglutida, dulaglutida, semaglutida e tirzepatida todas da mesma classe terapêutica.
Do total de notificações, 32% foram associadas ao uso fora da bula ou sem indicação médica, índice muito acima da média mundial, de 10%. Além disso, 5,9% dos relatos envolvem casos de pancreatite no Brasil, mais que o dobro da taxa global, que é de 2,4%.