Nos últimos dias, o Governo do Brasil, por meio da Anvisa, tem realizado esforços para trazer para o país o fomepizol, medicamento utilizado no tratamento de intoxicação por metanol, devido ao aumento do número de pessoas afetadas por bebidas adulteradas.
De acordo com o professor e farmacêutico Jorge Felipe Oliveira, especialista em farmacia clínica e hospitalar, o medicamento age mais rápido, é mais seguro e apresenta menos efeitos colaterais. Isso porque, segundo ele, “bloqueia a álcool desidrogenase, uma enzima do corpo que transforma o álcool em outras substância, impedindo a transformação do metanol em agentes perigosos ou prejudiciais à saúde. É como se fosse um interruptor, desligando a via de formação do ácido fórmico e do formaldeído”.
Atualmente, o tratamento disponível nos hospitais brasileiros utiliza etanol. O professor explica que, dependendo do prognóstico do paciente, também podem ser necessários suporte à vida, como ventilação mecânica, intubação e hemodiálise para remover as toxinas do corpo.
Diferenças entre os tratamentos
A principal diferença entre os dois tratamentos está na forma de ação: enquanto o fomepizol atua de forma direta e seletiva sobre a enzima álcool desidrogenase, inibindo sua ação de maneira precisa e imediata, o etanol age de forma competitiva, disputando o mesmo sítio enzimático com o metanol.
Por isso, são necessárias doses mais elevadas de etanol para alcançar efeito similar, o que aumenta o risco de efeitos adversos, como depressão do sistema nervoso central, vômitos e hipoglicemia. Enquanto o fomepizol funciona como um bloqueador direto, o etanol exerce um efeito retardante, sem interromper totalmente a metabolização do metanol.
Por que o Brasil não possui fomepizol
A ausência do medicamento no país se deve à falta de registro na Anvisa, o que impede sua comercialização e uso legal. O registro deve ser solicitado pela indústria farmacêutica, interessada em produzir e comercializar o medicamento. Até o momento, nenhuma empresa havia solicitado a liberação do fomepizol no Brasil.
Com a nova iniciativa do governo, o caminho se inverte: a Anvisa passa a buscar fabricantes e distribuidores internacionais para importar o antídoto e abastecer o SUS, garantindo acesso rápido a pacientes que necessitam do tratamento.
Importância do tratamento precoce
Em casos de intoxicação, o tratamento precoce é fundamental, prevenindo ou reduzindo sequelas graves causadas pelo ácido fórmico. É importante reforçar que nenhuma intoxicação deve ser tratada em casa. O paciente não possui treinamento específico e os próprios medicamentos podem causar efeitos adversos, tornando essencial o suporte de profissionais de saúde. O atendimento imediato é decisivo para o prognóstico e a recuperação do paciente.