Se o tempo segue seu curso natural, é comum imaginar que o envelhecer traga consigo a experiência de ser avô ou avó. Mas essa lógica, tão presente na memória afetiva das famílias brasileiras, pode estar mudando. Segundo projeções do IBGE, daqui a 45 anos o Brasil terá cerca de 75,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representará 37,8% da população. Um país, portanto, visivelmente envelhecido. Hoje, já somos a sexta nação com o maior número de idosos no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Mas se envelhecemos, estamos também tendo menos filhos, o que impacta diretamente a existência futura de netos. O Censo Demográfico de 2022 revela que a taxa de fecundidade das mulheres brasileiras atingiu seu menor patamar histórico: 1,55 filhos por mulher, uma queda vertiginosa frente à média de 6,28 filhos em 1960. Além disso, muitas mulheres estão adiando ou até mesmo abrindo mão da maternidade.
Esse cruzamento revela um cenário inédito: teremos mais idosos, mas menos avós. Isso porque a função social de “ser avô ou avó” depende de uma descendência que, numericamente, está encolhendo. Em outras palavras, é possível, e cada vez mais provável, que envelheçamos sem nos tornarmos avós. Essa mudança demográfica altera também a estrutura das famílias. O modelo tradicional da família extensa, que unia três ou mais gerações sob o mesmo teto ou em vínculos estreitos, perde força. No lugar dela, surgem novas configurações familiares, com vínculos escolhidos, relações afetivas diversas e arranjos que não seguem mais uma linha genética obrigatória.